O gato vaidoso
Monteiro Lobato
Moravam na mesma casa dois bichanos, iguais no pelo mas desiguais na sorte. Um, amimado pela dona, dormia em almofadões. Outro, no borralho. Um passava a leite e comia no colo pela mão da senhora. O outro por feliz se dava com espinhas de peixe colhidas no lixo.
Certa vez cruzaram-se no telhado e o bichano de luxo arrepiou-se todo dizendo:
- Passa de largo, vagabundo! Não vês que és pobre e eu rico? Que és gato de cozinha e eu, de salão? Respeita-me, pois, e passa de largo...
- Alto lá, senhor orgulhoso! Lembra-te que somos irmãos, criados no mesmo ninho.
- Sou nobre! Sou mais que tu!
- Em quê? Não mias como eu?
- Mio.
- Não caças ratos como eu?
- Caço.
- Não comes ratos como eu?
- Como.
- Logo, não passas dum simples gato igual a mim. Abaixa, pois, a crista desse orgulho idiota e lembra-te que mais nobreza do que eu não tens. - O que tens é apenas um bocado mais de sorte...
Quantos homens não transformam em nobreza o que não passa de um bocado mais de sorte na vida.
IN: LOBATO, MONTEIRO. Fábulas. São Paulo, Brasiliense, 1971, p. 112.
Algumas considerações:
1. Estamos no período em que a lei é: uma pessoa maior de 16 anos é igual a um voto, no âmbito civil. Assim, um conceito de cidadania que encontramos é cultuar existencias políticas individuais, autônomas e separadas.
2. Os valores parceiros da Igualdade são: Liberdade e Justiça. Ao seu lado vem: Honestidade, Autonomia, Simplicidade, Sobriedade e Ecologia. O resultdado final é a produção de Paz, amor e alegria. A Igualdade constrói a Dignidade Humana, portanto, podemos relacionar a temática com Direitos Humanos na Atualidade.
3. As concepções de Igualdade perpassam a história humana. No tempo de Martinho Lutero, século XVI, afirma: “um cristão é senhor livre sobre todas as coisas e não está sujeito a ninguém”, mas que, ao mesmo tempo, “é servidor de todas as coisas e sujeito a todos”. Há que se buscar os conceitos sobre Igualdade nos textos sagrados.
Lembre-se: ao utilizar este texto cite a referência.
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