domingo, 31 de março de 2013

As perguntas

Eu sempre soube que as perguntas são o primeiro passo para obter uma resposta. Creio que isso já está no interior do ser humano. Assim, sempre gostei de elaborar perguntas. Confesso que a resposta nem sempre foi favorável às expectativas juvenis... E não havia qualquer conotação de malícia ou astúcia nelas, nas perguntas. As respostas me surpreendiam e muitas delas me desanimavam.

Hoje fiquei me perguntando quais são os elementos em minha casa produzidos por mim. É a dúvida da criatura. E fiquei comparando os objetos de cá com os objetos de lá, de minha infância. Lembrei dos cascalhos no leito do arroio de nossa propriedade. E, entre eles havia muitas outras pedras, de outros tipos, sem valor comercial. Havia algumas rochas que só recebiam água e sombra, porém não eram escorregadias, isto é, não continham qualquer tipo de limo. Eu as escalava com muita destreza.

Fiquei pensando nas perguntas que eu tinha em minha infância e comparando-as com aquelas que insistem em surgir hoje. Penso que as perguntas já estavam lá, igualmente, mas não estavam verbalizadas no contexto apropriado para surgirem. Fiquei comparando as perguntas que fiz quando levantaram um muro de pedras naturais para conter um desbarrancamento à beira de um riozinho que enche muito rápido, longo, caudaloso, profundo. Olhando as imagens com a nitidez possível em antena interna, canal público, surpreendi-me comparando aquelas pedras com as pedras que conheci, há kilômetros e décadas de distância.

Na época de minha infância jamais pensaria em fazer barreiras de pedras para conter algum avanço de terra, que ocorria em proporções mínimas, de 1.000 por 1, quando alguma chuva mais forte ocorria. Não entendo realmente de engenharia, mas qualquer um poderia ver que aquele muro de contenção não suportaria 1 m² de terra úmida ou lama, como dizem aqui. Homens fortes, com máquinas potentes, homens importantes, com diplomas nas paredes ganham dinheiro para fazer coisas certas e tomar medidas protetoras.

E eu, como minhas perguntas e com minhas respostas não vejo certezas nem proteção. Jamais deixarei de fazer perguntas. E as respostas não estão nas estrelas, nem dentro de ninguém, nem qualquer uma dessas teorias gigantescas que vendem livros de páginas que ficarão amareladas pelo tempo. Perguntas e respostas, não apenas minhas, mas de uma geração, estão no universo líquido, à espera de quem as formule e comprove.

Sobre o Papel da ICAR a partir dos últimos acontecimentos

Considerei interessante a reflexão, e reproduzo neste espaço. Cada pessoa tenha liberdade de considerar por si mesma o valor ou o desvalor desta panorâmica nos oferecida por Nizan Guanae.
Agradeço a vocês, leitores, leitoras, por consultarem este blog. Caso queiram reproduzir seu conteúdo, citem a referência. É simples. É honesto. E nos dignifica como seres humanos, cidadãos neste mundo.

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Nizan Guanaes publicitário baiano, é dono do maior grupo publicitário do país, o ABC. Escreve às terças-feiras, a cada duas semanas, no caderno 'Mercado'.

Foto: by epocanegocios.globo.com

Folha de SP - 20/03/2013 


 
Francisco
Que coisa mágica é a vida. Estava eu chegando a Buenos Aires na semana passada para uma reunião de trabalho e jamais poderia imaginar que estivesse ali naquele dia para presenciar a mão do Espírito Santo e da história.

Saí do Aeroparque, o belo aeroporto ribeirinho da capital argentina, e fui até o meu hotel trocar de roupa antes de minha reunião. Liguei a televisão e, para a minha surpresa, o papa já havia sido escolhido.

Durante a próxima hora, eu e o mundo esperamos para ver que novo papa a fumaça branca nos traria. E eis que ele chegou. Surpreendente como a vida. Um argentino. E eu em Buenos Aires.

Começava ali uma aula de comunicação para o mundo que resume e mostra de maneira instintiva tudo o que os teóricos enchem a paciência e perdem um tempo enorme para explicar: a comunicação de 360 graus.

O cardeal Jorge Mario Bergoglio mostrou sem PowerPoint nem lero-lero como uma palavra pode mudar tudo, como um nome pode ser capaz de transmitir para o mundo todo uma mensagem tão poderosa e precisa.

A palavra é Francisco.

Francisco é uma palavra rica de significados num mundo pobre de significado.

Francisco quer dizer coma moderadamente num mundo obeso. Francisco quer dizer beba com alegria num mundo que enfia a cara no poste. Francisco quer dizer consumo responsável em sociedades de governos e consumidores endividados. Francisco quer dizer o uso responsável do irmão ar, do irmão mar, do irmão vento e de todas as riquezas debaixo do irmão Sol e da irmã Lua.

Francisco é um freio de arrumação não só na Igreja Católica Apostólica Romana, mas na sociedade a quem ela deve guiar. Em 24 horas, Bergoglio pegou uma instituição que estava emparedada e a tirou da parede, transportou-a dos intramuros do Vaticano para o meio da rua, para o meio do rebanho.

Comunicar é o papel da igreja. Para isso, foram escritos o Velho Testamento e o Novo Testamento, e Jesus não deixa dúvida quando disse aos apóstolos: "Ide e anunciai o Evangelho". Ide, ao contrário do que faz a gorda Cúria Romana, quer dizer ir, não quer dizer ficar em Roma. Quer dizer ir e anunciar.

E anunciar hoje é muito mais do que o comercial de 30 segundos. Anunciar hoje é usar todas as ferramentas disponíveis, todos os pontos de contato com seu público. Papa Francisco sabe disso muito bem.

Tanto sabe que muito antes de se apresentar ao mundo na sacada do Vaticano baixou um Steve Jobs nele, e, quando o monsenhor veio lhe oferecer uma veste toda rebuscada, Francisco Jobs retrucou: Se o senhor quiser, pode vesti-la, monsenhor, eu, não. O carnaval acabou.

É digno de reparo que Francisco não fez pesquisas nem testes antes de criar tudo isso. Não precisava. Foi buscar sua mensagem no DNA da igreja. E está escrevendo certo por linhas tortas.

Mesmo as coisas conservadoras que têm dito, coisas com as quais eu pessoalmente não concordo, são muito relevantes. A igreja não pode querer agradar a todo mundo. Ela tem que marcar territórios e significar coisas, e, ao fazê-lo, naturalmente exclui almas de seu rebanho.

Marca, design, conduta, relações públicas, endomarketing, alinhamento interno: "habemus papam".

Francisco se utilizou de todos os recursos do marketing para passar sua mensagem rapidamente, com alto impacto e precisão, para
o público interno e para o público externo.

Parece até que o 3G Capital assumiu o comando da igreja. Choque de gestão, orçamento base zero, alinhamento com a cultura perdida, volta às raízes, fé no trabalho, administração franciscana e disciplina de jesuíta de santo Inácio e professor Falconi.

Paradoxalmente, Francisco hoje acredita numa gestão mais parecida com Lutero do que com a tradição romana. Mas a igreja só teve que se enfrentar com Lutero porque ao longo do tempo se esqueceu da palavra Francisco.

terça-feira, 19 de março de 2013

A Cooperação e o Voluntariado I

Agora vivo num dos berços esplêndidos da Cooperação. De grande valor, a cooperação é uma bela virtude humana. Neste berço as pessoas utilizam a cooperação para fins monetários. Há várias cooperativas de crédito e de consumo, cujos associados ávidos pelos divulgados lucros, não estão muito interessados em colaborar, porém estão interessados em consumir.

O modo de vida, com o sistema capitalista, induz ao consumo, e, por consequencia, ao desperdício de todo o tipo de produção. Certamente o consumo é oposto à economia, embora o estado líquido dos conceitos induzam a pensar na palavra "Economia" no seu status científico. Aqui quero trazer a palavra associada aos conceitos empíricos e populares da ação de poupar, isto é, evitar gastos.

O princípio da cooperação está em todo espaço e em todas as relações interpessoais. Aliás, as empresas e pessoas cooperativadas utilizam exemplos da natureza para demonstrar o funcionamento de uma cooperativa, sob o lema "Cooperação", como por exemplo, as colméias, que não possuem rainha. Outros utilizam florestas e outros ainda se valem de rodas de moinhos, que não tem o eixo central. Nas relações sociais, seres humanos associam-se por afinidade e por interesse, executando rituais de cooperação para alcançar um objetivo comum e após alcançá-lo desfazem a associação ou grupo.

Nesse sentido, é um grande desafio ensinar "cooperar", "cooperação". É preciso vivenciar ações que indicam graus diversos de cooperação entre grupos ou indivíduos. É nesse sentido que entra o conceito do voluntariado. Encontrar-se em "estado voluntário" significa estar disposto a contribuir com dons e talentos para o bem comum da humanidade e não apenas de um grupo que apresenta uma iniciativa bastante específica, como os exemplos que citei acima, quais sejam, as cooperativas de crédito e as cooperativas de consumo. Portanto, ao trabalhar em sala de aula com a temática da Cooperação é preciso citar outros dons e talentos que estão presentes nos pretensos integrantes de uma cooperativa efetiva, sendo uma delas, o voluntariado.


segunda-feira, 11 de março de 2013

O bom mês de Março

Todos os anos apaixono-me pelo término do Verão. Os dias já não tem a mesma luminosidade. O Sol, astro rei, já está se bandeando para o Hemisfério Norte. Percebe-se a mudança das cores da natureza na copa das árvores, nas tonalidades do céu. Tempo e clima fazem suas parcerias.

Março é o mês de encontros, reencontros e desencontros nas unidades escolares. Encontros sérios, pré-determinados com esmero de mestres. Diria até, confrontos, com as apresentações formais aos desafios semestrais, anuais... Tempo de estabelecer as parcerias, com os desafios imaginários das últimas horas do ano anterior, já tão distante quanto a Lua da Terra e com um mundo desconhecido de letras, números, informações, afirmações, teses comprovadas ou à espera de sábios. Mês de opções e de elaboração concretual de construções bem estruturadas, em solo firme, esse do tamanho de continente. Tempo relacional, de novas parcerias, de estudo de parcerias, de "vamos ver o que vai dar".

Março é um bom mês para estudar e auscultar as expectativas. Tempo de deixar as relatividades para trás. Tempo de antever as primeiras luzes outonais e sentir na pele suas friagens. Tempo de ver folhas caindo, natureza mutável. É bem possível, muito provável que seja o tempo dos primeiros raios anuais sacudirem a terra para que se abra e faça, por ela mesma, brotar as sementes tão mansamente depositadas pelos ventos de tempos anteriores, não muito precisos, bastante impiedosos, por muitas noites silenciosos.

Ao mesmo tempo, em outros lugares, mãos são cheias de sementes, as terras estão afofadas por trabalho árduo, diário... Ah! Os brotos novinhos, nas hortas bem elaboradas! E quando menos se espera, nascem, assim como as belas amizades que se conquistam nos espaços escolares, livro - gente, gente - gente, banco - gente, classe - gente... A vida segue. Tem seu próprio curso, alheio a tantas cobiças humanas!