quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O Decálogo para uma espiritualidade da não-violência

Um dos temas que desafiam educadores Brasil afora é "como" abordar a "Violência". Existe um grupo de estudiosos e profissionais de múltiplas áreas que se posicionam firmemente em tratar da "Não-violência". Essa corrente aborda a temática no sentido de evitar a Violência, sem negá-la. Encontrei um texto que pode ser associado à reflexão, especialmente ao tratarmos com o Nível Médio, e que dá o título deste artigo, assinado por Rosemary Lynch e Alain Richard, religiosos da ICAR.

"A não-violência ativa nos chama para:
1 - Aprender a reconhecer e respeitar "o sagrado" ("aquele algo de Deus", como dizem os quacres) em todas as pessoas - inclusive em nós - e em todas as partes da criação. Os atos da pessoa não-violenta ajudam a liberar da obscuridade ou do cativeiro esse divino no oponente.

2 - Aceitar-se a si próprio profundamente. Aceitar "quem sou eu" com todas as minhas dádivas e riquezas, com todas as minhas limitações e erros, falhas e fraquezas e dar-me conta de que sou aceito por Deus. Viver em nossa verdade, sem orgulho desmedido, com menos ilusões e falsas expectativas.

3 - Reconhecer que aquilo que me ofende numa outra pessoa, e talvez até deteste, provém da minha dificuldade em admitir que essa mesma realidade está em mim também. Reconhecer e renunciar a minha própria violência, o que se torna evidente quando começo a monitorar minhas palavras, gestos, reações.

4 - Renunciar ao dualismo, à mentalidade "nós-eles" (maniqueísmo). É isto que nos divide em "pessoas boas/pessoas más" e nos permite demonizar o adversário. É a raiz do comportamento autoritário e exclusivista. Gera o racismo e torna possível os conflitos e as guerras.

5 - Encarar o medo e lidar com ele, não tanto na base da coragem, mas do amor.

6 - Compreender e aceitar que a Nova Criação, a construção de uma Comunidade Amada, sempre é levada adiante com a ajuda de outros. Nunca se constitui num "ato solo". Isto requer paciência e a capacidade de perdoar.

7 - Enxergar-nos como parte do todo da criação, em relação à qual nutrimos uma relação de amor, não de supremacia, lembrando-nos de que a destruição do nosso planeta é um problema profundamente espiritual, não apenas um problema científico ou tecnológico. Somos todos um.

8 - Estar dispostos a sofrer, talvez até com alegria, se acreditamos que isto venha liberar o divino nos outros. Isto inclui que aceitemos nosso lugar e momento na história com seus traumas e ambiguidades.

9 - Ser capazes de celebrar, de alegrar-nos, quando a presença de Deus foi aceita, e quando não foi, ajudar a descobrir e reconhecer esse fato.

10 - Ir mais devagar, ser pacientes, plantando as sementes do amor e do perdão em nossos próprios corações e nos corações daqueles que estão ao nosso redor. Devagar, cresceremos no amor, na compaixão e na capacidade de perdoar.


IN: BUTIGAN, Ken. BRUNO, Patrícia (OP). Da Violência à Integridade. Um programa sobre a espiritualidade e a prática da não-violência ativa. Sinodal, São Leopoldo, 2003.

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